domingo, 17 de agosto de 2008

O Desassossego

Adoro o pobre Bernardo Soares e seu quotidiano.
O Livro do Desassossego é um livro pensante. Alguém escrevendo à medida que pensa.

Pessoa. Sempre presente. Sempre um presente. Dos deuses.

Sempre me arrependo de perdoar. A verdade é que nunca perdôo e acabo com essa sensação de ter feito o que não queria. Eu nem sei onde vou parar assim. Onde vamos parar. Se vamos parar. E, lá fora, um lindo dia de inverno tropical - céu totalmente azul, brisa morna, cupins no crepúsculo. Ninguém proíbe a melancolia num dia como este?

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Ainda acordada

Eu literalmente abri uma janela. Quintana estava certo. Não havia mais como segurar as palavras e não havia ninguém para ouvi-las ou libertá-las. Estando o uso de papel em franca decadência e minha letra - antes linda - irreconhecível e preguiçosa, nada me restou senão render-me à tecnologia e, dando uma de zumbi cibernético, escrever a esta hora um arremedo de texto totalmente sem nexo.

Acabei de ler outro recado: um velho amigo lembra de como eram lindas as minhas redações. Coitado. Se ele lesse estas imbecilidades... O tempo estraga mesmo a gente. Estraga e cura. Ou estraga e escraviza - pois não passa de escravidão estar confinado a um momento de sua própria vida como estive nesses últimos 11 anos. Indo e voltando. Fugindo e sendo capturada - caçada - de volta. Cerzindo farrapos e vendo-os serem rasgados.

Mas o que seria isso senão o próprio ritmo da vida? Sou um plancton largado à própria sorte num negro oceano sem horizonte. Nossa. Exagerei?

Ferida eterna

Acabei de ler a coisa mais linda que já vi na literatura perdida pela internet. E pasmem: foi num recado do Orkut enviado a mim pela minha cunhada. Parece piegas, mas é muito mais do que isso. Piegas é mais. Menos é mais. A verdade é que literatura demais envaidece o autor e esvazia o sentido da poesia pensada. Vejam só.

“O amor é um exercício de jardinagem. Arranque o que faz mal, prepare o terreno, semeie, seja paciente, regue e cuide. Esteja preparado porque poderão aparecer pragas, secas ou excesso de chuva, mas nem por isso abandone o seu jardim. Ame, ou seja, aceite, valorize, respeite, dê afeto, ternura, admire e compreenda. Entenda que a inteligência sem amor te faz perverso. A justiça sem amor te faz implacável. A diplomacia sem amor te faz hipócrita. O êxito sem amor te faz arrogante. A riqueza sem amor te faz avarento. A docilidade sem amor te faz servil. A pobreza sem amor te faz orgulhoso. A beleza sem amor te faz ridículo. A autoridade sem amor te faz tirano. O trabalho sem amor te faz tarefeiro. A simplicidade sem amor te deprecia. A lei sem amor te escraviza. A política sem amor te faz egoísta. A vida sem amor não tem sentido!”

Bem, relendo agora, acho que exagerei um pouco. Na verdade gostei muito das frases: "A docilidade sem amor te faz servil." e "A autoridade sem amor te faz tirano."

Elas resumem perfeitamente a minha vida hoje. Totalmente sem amor, revezo-me entre o ridículo, a hipocrisia, a servilidade, a tirania, a escravidão. Aprisionei minha vida num momento que não passa. Um momento que recordo a cada dia, sem nunca esquecê-lo. Ele me secou, desidratou minha alma, rasga meu coração todos os dias - que, de teimoso, se remenda para tornar a se deixar sangrar novamente, num ciclo doentio.

É como espatifar-se num blindex todos os dias. Da primeira vez dói mais.