sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Folclore

O anel que tu me deste era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou.

Contestar a sabedoria popular quem há de?

As possibilidades

Acabei de ouvir uma frase e tanto. "Somos vítimas de nossas possibilidades." - foi o que ouvi. E eu falava há pouco do meu desespero por viver, das milhares de coisas que quero fazer e que me escravizam e encerram na gaiola do possível. Posso tantas coisas, podemos todos, que a bola de ferro atrelada ao nosso tornozelo nos nega a liberdade do nada fazer. Em casa, quando deveria descansar, ando quilômetros e quilômetros, num vai e vem interminável de uma maratona ingrata onde a vencedora é a pessoa mais chata do mundo: guarda isso!, por que aquilo está jogado?, pendura a toalha!, tira o seu prato!, faz o dever!... No trabalho, posso ser a chefe mais durona, a profissional mais atualizada e requisitada, orgulhosa dos meus MBAs e congressos. Na segunda faculdade, realizo-me com um CR tardiamente alto, produto da maravilhosa coexistência do prazer (de aprender o que quero) com a obrigação (de assistir às aulas). Na piscina, alongo cada músculo rumo à braçada perfeita que me trará o tão desejado prêmio dos mil metros em menos de 19 minutos. E, assim, as possibilidades me tornam mais uma de suas vítimas, apresentando-se impune e cruelmente ao meu completo alcance. Num mundo onde tudo podemos, o difícil é a certeza do que realmente queremos.

A outra que escreve

Releio tudo e não me reconheço em minhas próprias palavras: eis o milagre do escrever. O blog ainda existe. Segue existindo bissextamente. Diferente, muito diferente de mim, que tenho vivido famintamente, numa louca guerra para materializar o tempo e prendê-lo em minhas mãos. Quero ser tudo e fazer tudo ao mesmo tempo e agora - porque o agora é o único tempo que me é permitido ter. Quero ler, escrever, trabalhar, amar, nadar, estudar, bronzear, dormir, rolar, mentir, confessar, surtar, melhorar, estragar e consertar, perdoar, tentar, errar e acertar, ensinar e aprender, mas, acima de tudo, viver agora, como se o agora durasse para sempre. I am stuck in a moment, a moment that lasts forever and in which everything can happen.